A LUZ NA ESCURIDÃO

A LUZ NA ESCURIDÃO

 

1

Até meus vinte e poucos anos eu via tudo

Fiz viagens vi estrelas escuridão e céu profundo

Vi as cores vi a as luzes vi “as gentes”  pelo mundo

 

2

Conheci cidades vi maldades um mundo imundo

vi corpos sarados sepulcros caiados enterrados bem fundo

E à toa também vi gente boa tudo num segundo

 

3

Vi seres doentios  vi tiros perdidos  mortos esquecidos

Vi seres errantes vi  amantes diamantes empedernidos

Vi seres insensíveis empecidos de olhares empobrecidos

 

4

No som de cachoeiras nas serras e na planície costeira

Vi o tempo  vi o vento passeando e levantando poeira

Vi a chuva vi a neve vi casas sem eira nem beira

 

5

vi o arco íris na íris dos olhos vi amores em sete cores

vi a chuva cair a lagrima vazar verter em sete dores

mas vi o sorrir sem mentir o desabrochar de sete flores

 

6

Minha amada me deu sua mão seu carinho e atenção

Me deu a lua me deu o sol o brilho num caracol de emoção

E filhos meu maior presente as sementes no coração

 

7

E nos seus olhos amor eterno vejo ensejo lábios que brilham

E nos meus filhos amor etéreo ensejo meu desejo que brilhem

Em casa nas asas da ternura as travessuras que infantes trilham

 

8

2x

Meus olhos olhavam tudo não enxergavam o futuro sem explicação

Na direção errada não viam nada se viam foi em vão

 

 

 

1

em meus trinta e poucos anos eu via tudo

num acidente a gente sente escuridão e céu profundo

se foram as luzes as cores empalideceu o mundo

 

2

não enxerguei mais nada como conto de fada faca afiada

cortou me a esperança e como criança virei em nada

bruxuleou me a luz feito um capuz minha pálpebra celada

 

3

cegueira insólita, solidificada, cerrada , lacrada

não, não vi mais nada nada nada nada nada nada

 

4

meu mundo parou e congelou a imagem ficou na mente

as ultimas imagens me vem e não saem mesmo que tente

tudo parece que permanece assim como ficou de repente

 

1

em meus muitos anos há muito não vejo nada

embora envelhecido jamais esquecido vejo a amada

sua doce voz me embriaga e me afaga meiga palavra  

 

2

o rosto da amada envelheceu tanto quanto eu

para mim é o mesmo rosto jovem que se move

mesmo olhar da cor do mar e sorrisos a enfeitar

 

3

sei que tudo muda que o sol inunda  pradarias serenas

para mim anos não passam imagens embaçam apenas

tudo parece que amanhece como das ultimas cenas

 

4

meus filhos com voz adulta casados já emancipados

têm a mesma face juvenil infantil que os vi em anos passados

 

5

a cidade mudou o prédio alguém pintou o asfalto já rachou

a novela acabou a gíria se modificou  o transito aumentou

a moda se estilizou o sapato afinou . . . 

 

6    

mas as cores são as mesmas as novelas mesmos temas

os atores são os mesmos a maldade continua em cena

os odores são os mesmos a política mesmo esquema

 

7

Eu não vi a modernidade mas vivi a globalização

Conheci outras cidades medindo meus passos pelo chão

Meu laptop ouço a voz sim de todos voz na escuridão

 

8

Meus  olhos são as minhas mãos meus ouvidos são minha visão

O braile nos meus dedos contam muitos segredos como um clarão

Eu vivo como todo mundo    digo tudo que tenho a dizer

Quem é vivo sempre espera pois eu vivo nesta terra com muito prazer